O tempo
passa e algumas coisas que tinham muito significado, quando foram inventadas,
vão se tornando uma mera tradição sem valor real. Palavras que carregavam um
sentido imenso terminam como meros chavões, símbolos de uma verdade que ninguém
lembra mais. Uma destas coisas é a aliança do casamento.
A aliança
pra muita gente é apenas o anel que os noivos colocam no dedo. Não, a aliança é
mais do que isto. O anel é só um símbolo do que a aliança significa. Sem a
aliança no coração, o anel é só uma joia, que pode ser substituída. Muita gente
já tirou o anel do dedo e jogou na cara
de um cônjuge pra dizer, acabou.
Na
antiguidade, várias culturas levavam a sério a questão da aliança. A cultura
bíblica, na qual este texto se baseia, mais do que todas. O que era uma aliança
pra eles? Um pacto feito entre duas pessoas. Um compromisso incondicional e
inquebrável. Uma promessa de cuidar, proteger e ficar ao lado do outro para o
resto da vida, independentemente do que viesse a acontecer. Quebrar uma aliança era simplesmente
impensável.
Dentro deste
contexto, o casamento era um projeto que tinha que dar certo. As pessoas que se
casavam precisavam lutar, investir, esforçar-se para que o relacionamento
durasse a vida toda. Daí a importância das promessas feitas no altar, "na
alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na
pobreza...".
O tempo
passou, muita coisa mudou, e hoje o casamento é visto mais como um contrato do
que como uma aliança. O contrato é condicional. A gente fica junto enquanto for
conveniente. As bocas repetem as promessas no altar até hoje, porque é bonito,
porque é romântico, mas se fossem realmente sinceras as pessoas diriam: Eu
prometo te amar SE (palavrinha que faz toda a diferença!) você não errar
comigo, se me fizer feliz, se não engordar, se não passar por uma crise
financeira, se conseguir se encaixar em minhas expectativas etc., mas, assim
como fazemos com uma operadora de telefonia que não nos agrada mais, se o
cônjuge falhar, a gente troca por outro novo e começa tudo de novo!
É preciso
refletir sobre essa mudança de paradigma, da aliança para o contrato, e sobre o
tipo de sociedade que estamos construindo. Nós abandonamos a aliança por causa do custo que ela envolve;
mas perdemos os benefícios dela, e
colhemos as consequências de escolher o contrato como a base de nossos
relacionamentos. Quais consequências são estas? Sem pensar muito, todos podemos
perceber que em nossa sociedade atual os relacionamentos são descartáveis, você
e eu somos descartáveis, ou seja, só temos valor enquanto somos novos na vida
de alguém, enquanto somos úteis para os outros, enquanto alguém mais
interessante não aparecer. Construímos uma sociedade insegura, geramos crianças
cujo coração não tem certeza de que terão os pais ao seu lado para sempre,
diminuímos o valor da vida, transformamos promessas em palavras que eu faço de
conta que é verdade e você faz de conta que acredita.
Tristemente,
pouca gente consegue ainda acreditar que é tão amado por alguém que jamais seria
abandonado, jamais seria esquecido. Até mesmo o Deus que a maioria dos
brasileiros diz acreditar tornou-se no inconsciente coletivo um Deus que
precisa ser agradado o tempo todo, caso contrário ele pode se irritar e acabar
com você. Uma visão bastante diferente do Deus da Bíblia, que prometeu amar
você por toda a eternidade. Enfim, na sociedade do contrato, somos todos escravos
do medo de sermos descartados. Somos
como os brinquedos da animação da Disney / Pixar, Toy Story, sempre preocupados
que seus donos os abandonassem, sempre com medo de irem parar no lixo.
Por que
muitos casamentos não dão certo? Porque nem sempre as pessoas realmente se
esforçam para que dê certo. Se entramos em um casamento já sabendo que, se não
der certo, a gente separa e a fila anda, então, convenhamos, não iremos nos
esforçar tanto assim. Mas se fosse realmente pra sempre... então teria que ser
muito bom! Como ilustração, pense na diferença de um salto de paraquedas
virtual, no videogame, e outro na vida real. No primeiro, você pode errar
quantas vezes quiser, sem consequências. Então, você salta falando ao telefone,
lanchando, abandona o salto na metade e vai ao banheiro... mas no salto de
verdade, você sabe que só tem uma chance. Então coloca toda a sua concentração
no salto, e trata de fazer bem feito! Certamente as pessoas pensam muito mais
antes de saltar de paraquedas, justamente pelo medo de saltar errado; mas
quando saltam, o fazem com convicção, e dizem que valeu a pena!
Quando olhar
para o seu anel de aliança, se você usa um, pense nisso. Ser Bem Casado depende
muito de como você enxerga seu casamento, uma aliança ou um contrato.
Texto: Onésimo Ferraz
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