quinta-feira, 13 de junho de 2019

EU FAÇO UMA ALIANÇA COM VOCÊ...



O tempo passa e algumas coisas que tinham muito significado, quando foram inventadas, vão se tornando uma mera tradição sem valor real. Palavras que carregavam um sentido imenso terminam como meros chavões, símbolos de uma verdade que ninguém lembra mais. Uma destas coisas é a aliança do casamento.

A aliança pra muita gente é apenas o anel que os noivos colocam no dedo. Não, a aliança é mais do que isto. O anel é só um símbolo do que a aliança significa. Sem a aliança no coração, o anel é só uma joia, que pode ser substituída. Muita gente   já tirou o anel do dedo e jogou na cara de um cônjuge pra dizer, acabou.


Na antiguidade, várias culturas levavam a sério a questão da aliança. A cultura bíblica, na qual este texto se baseia, mais do que todas. O que era uma aliança pra eles? Um pacto feito entre duas pessoas. Um compromisso incondicional e inquebrável. Uma promessa de cuidar, proteger e ficar ao lado do outro para o resto da vida, independentemente do que viesse a acontecer.  Quebrar uma aliança era simplesmente impensável.

Dentro deste contexto, o casamento era um projeto que tinha que dar certo. As pessoas que se casavam precisavam lutar, investir, esforçar-se para que o relacionamento durasse a vida toda. Daí a importância das promessas feitas no altar, "na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza...".

O tempo passou, muita coisa mudou, e hoje o casamento é visto mais como um contrato do que como uma aliança. O contrato é condicional. A gente fica junto enquanto for conveniente. As bocas repetem as promessas no altar até hoje, porque é bonito, porque é romântico, mas se fossem realmente sinceras as pessoas diriam: Eu prometo te amar SE (palavrinha que faz toda a diferença!) você não errar comigo, se me fizer feliz, se não engordar, se não passar por uma crise financeira, se conseguir se encaixar em minhas expectativas etc., mas, assim como fazemos com uma operadora de telefonia que não nos agrada mais, se o cônjuge falhar, a gente troca por outro novo e começa tudo de novo!

É preciso refletir sobre essa mudança de paradigma, da aliança para o contrato, e sobre o tipo de sociedade que estamos construindo. Nós abandonamos  a aliança por causa do custo que ela envolve; mas perdemos os benefícios dela,  e colhemos as consequências de escolher o contrato como a base de nossos relacionamentos. Quais consequências são estas? Sem pensar muito, todos podemos perceber que em nossa sociedade atual os relacionamentos são descartáveis, você e eu somos descartáveis, ou seja, só temos valor enquanto somos novos na vida de alguém, enquanto somos úteis para os outros, enquanto alguém mais interessante não aparecer. Construímos uma sociedade insegura, geramos crianças cujo coração não tem certeza de que terão os pais ao seu lado para sempre, diminuímos o valor da vida, transformamos promessas em palavras que eu faço de conta que é verdade e você faz de conta que acredita.

Tristemente, pouca gente consegue ainda acreditar que é tão amado por alguém que jamais seria abandonado, jamais seria esquecido. Até mesmo o Deus que a maioria dos brasileiros diz acreditar tornou-se no inconsciente coletivo um Deus que precisa ser agradado o tempo todo, caso contrário ele pode se irritar e acabar com você. Uma visão bastante diferente do Deus da Bíblia, que prometeu amar você por toda a eternidade. Enfim, na sociedade do contrato, somos todos escravos do medo de sermos descartados.  Somos como os brinquedos da animação da Disney / Pixar, Toy Story, sempre preocupados que seus donos os abandonassem, sempre com medo de irem parar no lixo.

Por que muitos casamentos não dão certo? Porque nem sempre as pessoas realmente se esforçam para que dê certo. Se entramos em um casamento já sabendo que, se não der certo, a gente separa e a fila anda, então, convenhamos, não iremos nos esforçar tanto assim. Mas se fosse realmente pra sempre... então teria que ser muito bom! Como ilustração, pense na diferença de um salto de paraquedas virtual, no videogame, e outro na vida real. No primeiro, você pode errar quantas vezes quiser, sem consequências. Então, você salta falando ao telefone, lanchando, abandona o salto na metade e vai ao banheiro... mas no salto de verdade, você sabe que só tem uma chance. Então coloca toda a sua concentração no salto, e trata de fazer bem feito! Certamente as pessoas pensam muito mais antes de saltar de paraquedas, justamente pelo medo de saltar errado; mas quando saltam, o fazem com convicção, e dizem que valeu a pena!

Quando olhar para o seu anel de aliança, se você usa um, pense nisso. Ser Bem Casado depende muito de como você enxerga seu casamento, uma aliança ou um contrato.

Texto: Onésimo Ferraz

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